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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O ANTICHRISTALizante

Do filme mais polêmico do ano, O anticristo, de Lars Von Trier, ainda em cartaz no Metrópolis, escutei coisas das mais variadas. Entre tantas, de mau-gosto a interessantíssimo, escolhi o termo corajoso como o seu melhor, pelo mesmo desbancar de maneira incisiva o lado ultrarromântico da maternidade. Nele, a personagem feminina debate-se com a duradoura maldição do ser mulher, desde sempre demonizada: sinuosa e dissimulada, serpente; caldeirão que transborda durante três dias e não seca, bruxa; ainda sobrecarregada, como castigo à expulsão do Éden, pela dor do parto e quase que exclusivamente pela responsabilidade do bom desenvolvimento psicológico do rebento, pois o termo matrimônio refere-se a materno(al), afetivo; enquanto que patrimônio, sustento, manutenção de bens, trabalho, este que por sinal deixou de ser castigo com o advento do capitalismo. Assim, em vez de incorporar o lado crítico da sua pesquisa acadêmica, o "feminicídio" proporcionado pela consolidação do patriarcado na estória da humanidade, ela assume o seu estigma e ataca seus "oponentes" diretos: o filho e o marido, este que ainda lhe serve de terapeuta, mas que termina por lhe queimar numa fogueira, como chama a tradição. Além deste, a película ainda desliza em alguns outros clichês como o da castração da pau-lavra masculina (golpe no pênis), da cessação ao prazer feminino (corte do clitóris) e ao da grotesca raposa antropomorfizada em arauto do apocalipse. Entretanto, algumas concessões são benvindas até para dialogar com o sadomasoquismo pouco reflexivo que reina no gênero: "logos mortais".

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